sábado, 11 de abril de 2009

Professor levanta dúvida sobre idade de Jesus ao morrer

O debate histórico sobre o dia no qual Jesus Cristo foi crucificado no monte Gólgota continua cheio de incógnitas e contradições surgidas dentre os documentos históricos, dos evangelhos, da astronomia e da tradição.

Faltando uma prova esclarecedora, para chegar a uma conclusão é preciso decifrar um complexo quebra-cabeças de pistas: “Pegar o bisturi da crítica” frente ao conteúdo dos evangelhos e desvendar com um grande “temor reverencial” e “dor de cabeça teológico” o que há de histórico e de propagandístico nele.
Quem explica isso é o professor de Filologia Grega da Universidade Complutense de Madri e especialista em Linguística e Literatura do Cristianismo Primitivo, Antonio Piñero, autor do livro “La verdadera Historia de la Pasión”.
Com esta pesquisa, foram derrubados alguns ícones: o primeiro deles, o da idade de Jesus no momento em que morreu.

“Historicamente, não se pode dizer que Jesus morreu com 33 anos”, explica à Agência Efe em entrevista Ramón Teja Casuso, professor de História Antiga da Universidade da Cantábria e professor “honoris causa” da Universidade de Bolonha.


“Cada povo parte de seu feito mais importante para medir o tempo.
E Dionísio, o Exíguo, o monge e matemático que estabeleceu no século VI qual era o ano em que Jesus nasceu - o Anno Domini - estava errado”, assegura Teja.
Investigações históricas posteriores demonstraram que Herodes, o Grande, que era rei da Judéia durante o nascimento de Jesus e responsável pela perseguição e massacre das crianças com menos de dois anos, teria morrido, na realidade, no ano 4 a.C., e, por isso, Cristo teria nascido no ano 5 ou 6 a.C., paradoxalmente.


Essa vertente, que não teria por que contradizer o fato de Jesus ter morrido aos 33 anos, entra em choque com a história que diz que Pôncio Pilatos, o prefeito de Judéia, “lavou as mãos” antes de decidir se executaria Cristo ou Barrabás.
Pôncio Pilatos “ocupou este cargo entre 29 e 37 d.C.”, afirmou Teja, o que significa que Jesus morreu com entre 34 e 42 anos.
De onde vem, então, a ideia de que Cristo morreu aos 33? Os evangelhos nunca afirmam tal coisa, mas Lucas, no capítulo 3, conta que “quando Jesus começou o seu ministério, tinha cerca de 30 anos”.


Já o livro de João descreve até três Páscoas nas quais Jesus vai a Jerusalém (curiosamente, Marcos, Mateus e Lucas só falam de uma), o que fundamenta a crença popular cristã de que seriam 33 os anos de vida do Messias.
Para se aproximar mais de uma data exata, Antonio Piñero considera que é preciso fazer uma investigação astronômica.
“Ele morreu em uma sexta-feira com lua cheia em Páscoa, por isso sabe-se que 15 de Nissan - o primeiro dos 12 meses do calendário judaico -, que é quando se comemora a Páscoa judaica, reunia essas condições” entre os anos citados.


“O resultado é que há duas opções: 7 de abril do ano 30, segundo o qual Cristo teria morrido com 36 anos, e 3 de abril de 33, no qual Cristo teria 39″, assegura.
Piñero considera mais provável a data de 7 de abril do ano 30 como data de sua morte, e encontra a explicação em Paulo de Tarso, também conhecido como São Paulo, e uma das fontes mais fidedignas da doutrina católica através das Epístolas Paulinas.
“A descoberta de uma inscrição demonstra que o prefeito regional de Gálio que julgou Paulo em Corinto, capital de Acaia, esteve ali nessa cidade entre junho de 51 e junho de 52″, segundo o especialista.


Isto faz com que, “se o ano de 33 for considerado como o da morte de Cristo, o cálculo seja muito ajustado”, explica o professor, levando em conta que Paulo passou, após a morte de Jesus, três anos meditando e, depois, 15 dias em Jerusalém e 14 anos pregando.
Jesus teria morrido, então, em 7 de abril do ano 30? Piñero ainda expõe uma ressalva.
“É minha opinião, mas acho que é mais provável que Jesus tenha sido crucificado na quinta-feira, pela simples razão de quem se foi crucificado às 15h de sexta-feira, teria morrido caída a tarde.
Isso, para os judeus é o novo dia, ou seja, sábado (Shabat), dia de descanso”, argumenta Piñero.
“A crucificação em dia de descanso teria sido uma profanação monumental. É mais possível que não tenha sido crucificado na sexta-feira, mas na quinta-feira. Ou seja, não em 7, mas em 6 de abril do ano 30 d.C.”, conclui.

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